Crepúsculo
dos Deuses ( Sunset Boulevard )
Joe, um
roteirista desempregado se refugia numa mansão da Sunset
Boulevard quando foge da polícia e é confundido
com um escritor que deveria encontrar a esquecida estrela
do cinema mudo Norma Desmond, que planeja um grande retorno
com um script em que está trabalhando. Acaba ficando
por lá e se tornando gigolô da veterana atriz.

Gloria Swanson - Sunset Boulevard (1950)
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O filme
que trouxe de volta ao estrelato a atriz do cinema Gloria
Swanson (que perdeu o Oscar para Judy Holiday, por Nascida
Ontem, numa das disputas mais acirradas em todos os tempos)
que havia sido superstar no cinema mudo (curiosamente ela
fez poucos filmes depois mas manteve-se dali em diante como
mito de “eterna juventude”). Ela foi a quarta
escolha para o papel de Norma Desmond. Inicialmente os autores
pensarem em Mae West (que recusou indignada de alguém
pensar que ela estivesse fora de moda), Pola Negri (também
recusou) e Mary Pickford (que gostou da idéia mas queria
que o roteiro fosse reescrito para ela).

Gloria Swanson, William
Holden - Sunset Boulevard (1950)
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A fita
faz várias referencias à vida da própria
Swanson, o filme que ela assiste é Queen Kelly, de
1928, que havia sido rodado por Erich Von Stroheim (que faz
o mordomo na fita), ela imita Chaplin (que foi seu amigo)
e num jogo de carta reencontra velhos amigos de seu tempo
de estrelato agora também em decadência também
na vida real (o comediante Buster Keaton, a atriz Anna Q.
Nilsson, o ex-galã H. B. Warner) e o diretor Cecil
B. De Mille que a recebe nos estúdios autênticos
da Paramount onde ele rodava Sansão e Dalila , realmente
fez uma série de fitas estreladas por ela.

Cecil B. DeMille, Gloria Swanson- Sunset Boulevard
(1950)
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“Sunset
Boulevard” (Boulevard do Crepúsculo) é
realmente o nome de uma avenida importante de Los Angeles
mas o número da casa da mansão de Norma Desmond
não existe na realidade. A Mansão real (demolida
em 57) nem sequer tinha piscina (e por isso ela foi construída
especialmente para a fita nos terrenos da Mansão John
Paul Getty no Wilshire Boulevard. Essa mesma piscina apareceu
também em Juventude Transviada em 1954 .
Quem foi
inicialmente convidado para fazer o papel do roteirista desempregado
e gigolô Joe Gillis, foi Montgomery Clift mas este desistiu
duas semanas antes (porque achou que o papel tinha semelhanças
com sua vida particular por ele ser muito amigo da cantora
Libby Hollman). Fred MacMurray (que havia feito Pacto de Sangue
com Wilder o recusou por achá-lo difícil demais)
e o escolhido acabou sendo William Holden, então com
32 anos e que desde então se tornou o ator favorito
de Wilder (sob cuja direção ganharia o Oscar
de 53 com Inferno numero 17) .

William Holden - Sunset Boulevard (1950)
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Erich
Von Stroheim que não sabia dirigir teve que ter seu
carro puxado por cabos durante a cena de visita à Paramount.
Os escritórios dos roteiristas no estúdio na
verdade era a Escola para os alunos menores de idade que filmavam
ali. O filme originalmente começava com o personagem
de Holden numa Morgue contando para outros mortos sua história.
Isso provocou gargalhadas nas previews , por excesso de humor
negro e Wilder resolveu manter a narrativa dele, mas desta
vez apenas com o corpo na piscina. Nas cenas finais na casa
de Norma, a colunista de fofocas, Hedda Hopper interpreta
a si mesmo e quando Swanson acabou de fazer a cena foi realmente
aplaudida pela equipe. Ganhou Oscars de trilha musical e roteiro.
No começo dos anos 90, o compositor Andrew Lloyd Webber
transformou o filme numa peça da Broadway, com a aprovação
de Wilder, que virou o show Sunset Boulevard, estrelado por
Glenn Close (mas teve sucesso apenas relativo nunca recuperando
o investimento).

Erich
Von Stroheim, William Holdein,
Gloria Swanson- Sunset Boulevard (1950)
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Comentário:
O melhor filme já feito sobre Hollywood (seu rival
mais próximo é o também brilhante Assim
Estava Escrito/The Bad and the Beautiful, 1952, de Vincente
Minnelli). Talvez porque o diretor Billy Wilder e seu roteirista
habitual Charles Brackett tenham conseguido manter um tom
acertado que mistura ironia, humor negro, nostalgia , melodrama,
cinismo e compaixão. Mas principalmente por terem conseguido
Gloria Swanson para o papel central, a mítica da atriz
se mistura com a da personagem Norma Desmond (curiosamente
Gloria não tinha tanta idade assim, entre 49 e 52 anos,
dependendo da fonte que você consulta) sua interpretação
é soberba, ainda conservando propositalmente alguns
tiques do Cinema Mudo (“Eu ainda continuo grande, diz
ela, os filmes é que ficaram menores”), mostrando
versatilidade (sua imitação de Carlitos é
um primor), nunca caindo na caricatura nem mesmo nas cenas
de loucura e tem toda razão quando afirma “Não
se fazem mais rostos como este hoje em dia”. Sendo que
a descida das escadas, dirigida pelo antigo marido, diretor
e agora mordomo Stroheim é das mais belas da História
do cinema (e ela caminhando para a lente até sair de
foco é uma alegoria para toda a História, de
uma estrela consumida pelo próprio mito do cinema).

(L
to R) Anna Q. Nilsson, Gloria Swanson, Buster Keaton,
William Holden, Erich von Stroheim, Harry Warner
- Sunset Boulevard (1950)
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Também
é uma grande ousadia, raramente imitada depois, fazer
com que a historia seja contada por um personagem já
falecido (Joe Gillis aparece morto por tiros numa piscina,
só vamos saber como e porque bem mais tarde) e que
ainda por cima não é especialmente simpático
. É até mesmo um vigarista, aparenta ter pouco
talento (as cenas com a mocinha Nancy Olson e com o amigo
Jack Webb, depois famoso em séries de teve como Dragnet
são as mais fracas da fita ). Mas é bem possível
que tanto Wilder quanto seus parceiros se identifiquem com
Joe. Poético e cruel, mágico e cínico,
Crepúsculo dos Deuses ( e finalmente acertaram com
um título nacional) é a fita paradigma para
uma indústria que adora se auto-louvar, se auto-criticar
(desde que não seja muito á sério) ,
se auto-promover. Que é capaz de vender até
o sonho de sua própria degradação.

Gloria Swanson- Sunset Boulevard (1950)
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Crepúsculo
dos Deuses
Ano:1950
Diretor:Billy Wilder
Genêro:Drama
Fonte:
UOL; Rubens Ewald Filho
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