A
Cabra Ou Quem É Sylvia?
Autor
de Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1962), o americano Edward
Albee é um dramaturgo provocador. Escrita em 2000 e
só agora montada no Brasil, a tragicomédia A
Cabra Ou Quem É Sylvia? descarta os valores morais.

Edward
Albee in 1962, the year of Who's Afraid of Virginia Woolf.
Dirigidos
por um seguro Jô Soares, José Wilker e Denise
Del Vecchio interpretam o casal Martin e Stella. Felizes e
cúmplices, eles vivem em harmonia com o filho gay (Gustavo
Machado) e têm a admiração dos amigos,
entre eles Rossi (Francarlos Reis). Tamanha estabilidade desmorona
quando Martin encontra uma amante: Sylvia. Poderia ser um
triângulo amoroso dos mais banais, mas no auge de sua
carreira de arquiteto e com uma família modelo, se
descobre apaixonado por uma cabra!

José
Wilker e Denise Del Vecchio encenam texto de Edward Albee
Jô,
que estréia sua segunda peça como diretor só
este ano (ele também dirige "O Eclipse",
em cartaz no Teatro Jaraguá), considera a obra "extraordinariamente
bem escrita, ao mesmo tempo muito engraçada e muito
trágica". Para o diretor, "A Cabra ou Quem
é Sylvia" está entre "os mais importantes
trabalhos de Albee, ao lado de "Quem tem medo de Virginia
Woolf?", grande sucesso de 1962.
Entre
o absurdo e a tragédia, o espetáculo transforma
riso em inquietação. Referências a pedofilia,
zoofilia e incesto – algumas cenas são bem pesadas
– incomodam o espectador em busca de diversão
antes da pizza. E está aí o principal mérito
do texto: expor a perda da racionalidade, a animalização
humana. Ciente do potencial de seus atores, Jô Soares
evidencia neles a reviravolta da trama. Denise vai gradualmente
da esposa altiva para a desesperada. "Por que você
não está chorando?", pergunta um patético
Wilker. "Porque tudo isso é muito grave para chorar",
responde sua personagem, que, brigando, destrói aos
poucos o cenário. Já Gustavo Machado, antes
responsável pelo humor, deixa clara a deterioração
dos valores, em oposição a um atônito
Francarlos Reis.

José
Wilker, Denise Del Vecchio e Gustavo Machado nos bastidores
da peça
"Não
se trata de uma peça sobre taras com animais, e sim
uma discussão sobre compreensão e tolerância",
explica Gustavo Machado. Para o ator, o fato de se tratar
de uma cabra - e não uma outra mulher, por exemplo
- pega a platéia desprevenida e leva o conflito para
um plano mais abstrato, longe dos habituais clichês
das histórias de traição.
Ao revelar
criaturas tão reais em meio à incoerência,
a perturbadora peça de Albee reafirma a função
da arte de instigar a emoção.
A peça
estreou em Nova York em 2002, com Bill Pullman no elenco,
e ganhou o Tony de melhor espetáculo.
A Cabra
Ou Quem É Sylvia? (100min). 16 anos. Estreou em 10/10/2008.
Teatro Vivo (278 lugares). Avenida Doutor Chucri Zaidan, 860,
Brooklin, 5105-1520. Sexta e sábado, 21h30; domingo,
19h. R$ 50,00 (sex. e dom.); R$ 60,00 (sáb.). Bilheteria:
14h/20h (ter. a qui.); a partir das 14h (sex. a dom.). Televendas,
3188-4141. Cc.: todos (por telefone). Estac. c/manobr. (R$
15,00).
A
Cabra ou Quem é Sylvia? fica em cartaz até 21
de dezembro.

Jô
Soares
José
Eugênio Soares nasceu em 16 de janeiro de 1938. Filho
de Orlando Soares e de Mercedes Leal Soares, aos 13 anos estudava
no Lycée Jaccard na Suíça. Voltou ao
Brasil aos 18, e se preparava para ingressar no Instituto
Rio Branco, para seguir carreira diplomática. Com família
bem relacionada, morou um certo tempo no hotel Copacabana
Palace. Sempre divertido, de humor rápido e inteligente,
o jovem gostava de entreter seus colegas com casos e piadas.
O jornalista e homem de TV, Silveira Sampaio, percebendo a
desenvoltura do rapaz, perguntou o que faria na vida. "Vou
para o Itamaraty". Silveira então disse: "Você
pode estudar o que quiser, mas vai acabar mesmo é no
teatro e televisão".

Jô
Soares
Jô
abandonou o projeto da carreira diplomática e estreiou
para os holofotes no filme "O Homem do Sputnik",
chanchada de Carlos Manga. Na televisão, a convite
de Adolfo Celi, começou escrevendo textos de teleteatro
e eventualmente atuando no programa "TV Mistério",
da TV Rio. Tornou-se roteirista do programa "Câmera
Um", da TV Tupi. Em 1959, entrevistava e fazia graça
nos programas "Jô, o Repórter" e "Entrevistas
Absurdas", veiculados pela TV Continental, no Rio. Participou
de "O Riso é o Limite", na TV Rio e, em 59,
estreava no teatro como o bispo de "Auto da Compadecida".
Em 1960, seguiu para São Paulo, onde fez brilhante
carreira como redator de TV ("Show a dois, Três
é demais") e ator e humorista ("Cine Jô",
"La Revue Chic", "Rifi-7", "7 Belo
Show", "Jô Show", "Praça
da Alegria", "Quadra de Ases"). Destaque para
a atuação de Jô Soares como entrevistador
internacional do "Programa Silveira Sampaio", em
1963 e 1964. A fama nacional como comediante veio em 1967,
quando estreou como o mordomo Gordon da "Família
Trapo", programa que também ajudava a escrever.
Na TV Globo, firmou seu sucesso nos humorísticos "Faça
o humor, não faça a guerra" (1970), "Satiricon"
(1973), "O planeta dos homens" (1976) e "Viva
o Gordo" (1981).
Os personagens
marcantes foram muitos: Bô
Francineide (clique aqui e veja video), Gardelon, irmão
Carmelo, Norminha, Capitão Gay, Ze
da Galera (clique aqui e veja video ), etc. Os bordões
que caíram na boca do povo, inúmeros: "tem
pai que é cego", "cala a boca, Batista",
"muy amigo", "a ignorância da juventude
é um espanto", "vai pra casa, Padilha".
Em 1973, Jô estreou seu sonhado programa de entrevistas
na nova casa, o "Globo Gente". Problemas com a censura
o retiraram do ar.

Jô
Soares - Petrópolis, anos 80
Nos anos
80, já em época da abertura política,
a emissora não apoiou o projeto para um programa de
entrevistas com ele. Sílvio Santos aproveitou e atraiu
Jô para o SBT com um salário recorde na TV brasileira
(perto de 2 milhões de cruzeiros), com direito a programa
de humor ("Veja o Gordo") e um talk-show ("Jô
- Onze e Meia"), que finalmente estrearia em 16 de agosto
de 1988. Pouco tempo depois, Jô encerrou a carreira
de humorista, passando a se dedicar à imprensa, à
música, ao teatro e à literatura. Em 3 de abril
de 2000, ele voltaria para a Globo, no "Programa do Jô",
e entrevistaria aquele que não dava entrevistas, o
dono e fundador da emissora, Dr.Roberto Marinho. Os livros
Xangô de Baker Street (1995) e O Homem que
matou Getúlio (1998) marcaram sua nova fase como
escritor.

Jô
e Bill Clinton
Sua carreira
foi destaque em vários jornais, incluindo o jornal
americano "The New York Times". Com o título
de "O showman do renascimento brasileiro não pode
ser contido num "talk show'", Larry Rohter discorre
sobre a carreira do multitarefas Jô, lembrando seu sucesso
na TV como comediante, durante a ditadura militar, e os "talk
shows" que fez depois, nos moldes americanos.
Visite
o site do Programa do Jô

Jô
Soares: "Nas artes plásticas tenho três
verdadeiras paixões : Toulouse-Lautrec, Roy Lichtenstein
e Van Gogh. Meu estilo preferido é a Pop Art, na qual
destaco mais uma vez Roy Lichtenstein e Rauchemberg."
"No
Brasil, são muitos os artistas que gosto. Entre eles
estão:Angelo de Aquino, Rubens Gershman, José
Roberto Aguilar, Antonio Dias, Baravelli, Guto Lacaz, Caulos,
Tomi Otaki e Leda Catunda."
"Orquestras:
Duke Elligton, Cab Calloway, Benny Goodman, Count Basie, Stan
Kenton"
"Trompete:
Louis Armstrong, Tommy Ladnier, Roy Eldridge, Chet Baker,
Miles Davis, Winton Marsallis"
"Sax
Tenor: Lester Yong, Coleman Hawkins, John Coltrane"
"Sax
Alto: Charlie Parker, Paul Desmond, Phil Woods"
"Sax
Barítono: Gerry Mulligan"
"Bateria:
Gene Krupa, Max Roach, Shelly Mane"
"Guitarra:
Django Reinhardt, Barney Kessell"
"Violino:
Stephan Grapelli"
"Piano:
Teddy Wilson, Art Tatum, Thellonius Monk, Oscar Peterson,
Dianna Krall"
"Contrabaixo:
Slam Stewart, Major Holley, Ron Carter, Charlie Mingus"
"Cantor:
Louis Armstrong, Joe Williams"
"Cantora:
Billie Holliday, Ella Fitzgerald, Sarah Vaugham, Annita O'Day,
Enerstine Anderson, Blossom Dearie, Dianna Krall, Cassandra
Wilson"
Playlist
do Jô:
1. Dianne
Schuur - “In Tribute”
2. Helen Merrill - “Dream of You”
3. Ernestine Anderson - “Blues, Dues & Love News”
4. Diana Krall - “When I Look in Your Eyes”
5. Chet Baker - “My Funny Valentine”
6. Slim Gaillard - “Opera in Vout”
7. Roy Eldrigde - “Happy Time”
8. Clifford Brown - “Jazz 'round Midnight”
9. Stephan Grappelli - “Fine and Dandy”
10.John Pizarelli - “Meet the Beatles”
Filmes
preferidos:
A Marca da Maldade - Orson Welles
A Trapaça - Federico Fellini
Amei um Bicheiro - Jorge Ileli
Cidadão Kane - Orson Welles
Dead Men Don't Wear Plaid - Carl Reiner
Era do Rádio - Woody Allen
Hannah e Suas Irmãs - Woody Allen
La Strada - Federico Fellini
Love and Death - Woody Allen
O Assalto ao Trem Pagador - Roberto Farias
O Grande Momento - Roberto Santos
O Incrível Exército Brancaleone - Mario Monicelli
O Jovem Frankenstein - Mel Brooks
O Sentido da Vida - Monty Python
Os Boas Vidas - Federico Fellini
Os Mil Olhos do Doutor Mabuse - Fritz Lang
Porte de Lilás - René Clair Quanto
Mais Quente Melhor- Billy Wilder
Rififi - Jules Dassin
Sete Dias em Maio - John Frankenheimer
The Manchurian Candidate - John Frankenheimer
Tiros na Broadway- Woody Allen
Um Americano em Roma - Stefano Vanzina (Steno)
Um Assaltante Bem Trapalhão - Woody Allen

Fontes:
Veja São Paulo; UOL Diversão e Arte; MARCOS
DÁVILA, Folha S.Paulo. Wikipedia; American Academy
of Achievement; Desktop do Jô
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